UmGrupo de Estudo Tripartite (GET), formado no âmbito do Ministério do Trabalho, deve apresentar até o fim deste ano propostas sobre medidas e procedimentos de prevenção à exposição de trabalhadores a agentes cancerígenos. O GET foi constituído pela Portaria nº 741, publicada no último dia 31 de julho no Diário Oficial da União, e será composto de até seis membros efetivos, representando o governo, empregadores e trabalhadores. O câncer ocupacional representa de 2% a 4% dos casos da doença, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A estimativa do Inca para o Brasil, no biênio 2018-2019, é de 600 mil novos casos de câncer, para cada ano. Ou seja, até 48 mil casos podem ser motivados pela exposição a agentes cancerígenos no ambiente de trabalho, nos dois anos. Os tipos mais comuns são o câncer de pulmão, os mesoteliomas (que começam nas células dos revestimentos internos, especialmente no tórax ou abdome), de pele, de bexiga e leucemias.
O auditor-fiscal do Trabalho e coordenador-geral de Normatização e Programas da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho, Elton Machado Barbosa Costa, lembra que existem cancerígenos com os quais a população tem contato diariamente, como a poluição do ar, mas o esforço do GET está concentrado nos ambientes de trabalho, onde a inspeção do trabalho tem condições de atuar.
Das substâncias ou misturas consideradas carcinogênicas para os humanos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), várias são comuns nos ambientes de trabalho, desde indústrias até salões de beleza, ou mesmo em lavouras no meio rural. Um exemplo é a sílica, utilizada na produção de vidros e porcelanas, que pode causar câncer de pulmão. Outro é o amianto ou asbesto, comum na indústria têxtil e de fibrocimento. Utilizado na produção de telhas, caixas d’água e tubulações, entre outros, o asbesto pode causar fibrose pulmonar, tumor maligno da pleura e câncer de pulmão.
Também estão presentes na rotina das fábricas e indústrias substâncias como o cromo hexavalente, utilizado na fabricação de baterias, soldas e pigmentos, que aumenta o risco de câncer de pulmão e das fossas nasais; e o benzeno, um solvente derivado do petróleo que pode provocar leucemia mieloide.
A lista inclui também metais pesados como o níquel e cromo, a radiação ionizante e alguns agrotóxicos, além de produtos que parecem inofensivos, como poeiras madeira, de couro e de cereais. Os efeitos podem ser ainda piores, quando o trabalhador estiver sujeito à poluição ambiental ou tiver uma dieta rica em gorduras trans, além de consumo exagerado de álcool, agentes biológicos e tabagismo.